quarta-feira, 28 de março de 2018

Na lua

Hoje movo-me como se estivesse na lua... muito devagar. Ando a quebrar devido à falta de sono. E é um fardo que não consigo partilhar porque há todo o factor amamentação e a pequena criatura ainda não percebeu que à noite deverá dormir, não compensar o leite que não mama durante o dia. Ainda assim, e para aumentar a frustração mas ao mesmo tempo acalmar o meu coração de mãe, não consigo capacitar-me a “treinar” o sono do meu filho. Não que o instinto materno transborde de mim assim à doida (aprendi da pior forma que não é assim uma coisa automática), mas se não me sinto confortável com um passo simplesmente não o dou. 
Então por enquanto ando nisto. A dormir de mama de fora. A aconchegar um corpinho pequeno junto a mim. A encher-me de paciência e a dar muitos beijinhos. A dormir em pé e a perder o sono quando já o adormeci. Mas a acordar e ver um sorriso desdentado, as bochechas gordas com covinhas e o entusiasmo naqueles olhos pestanudos (não sei onde foi buscar pestanas tão grandes, o miúdo) de viver um novo dia e tudo se renova em mim também. E fico tão grata por estar viva, por ser a mãe deste miúdo espetacular, por poder partilhar o entusiasmo dele e viver estes momentos. Até agradeço pelo cansaço. E gostava MESMO de agradecer por haver a hora da sesta no trabalho... só que não. Por isso continuamos no mundo da lua.
Bom resto de semana pessoas do meu coração! 

segunda-feira, 19 de março de 2018

Dia dos “meus” pais

Tive a sorte de ter mais que um GRANDE (assim, com maiúsculas) exemplo de pai e de homem na minha vida. Tive a sorte de, apesar de nascida e criada num meio tão patriarcal, de ter tido sempre quem me ouvisse e me considerasse como uma igual, que tentava compreender as dores de período, a cabeça complicada de uma rapariga, adolescente, mulher. Tive a sorte de ter comigo homens de coração tão grande que sei que fariam de tudo para me apanhar quando eu cair, mas que me deixam em liberdade porque na verdade eu gosto de ser livre e estar sozinha. Respeitam o meu espaço. Ouvem as minhas dores. Apoiam os meus sonhos mais rebuscados. Tive um grande avô, que me encheu o coração de amor e compreensão , tenho um grande pai, que, escuso de sublinhar, tem sido pai e mãe em pelo menos metade do seu percurso na paternidade, sempre aberto a aprender, a aceitar que a vida é mais do que as rotinas e sempre pronto a defender as filhas. E sei que dei um grande pai ao meu filho, que o ama incondicionalmente, que o vai apoiar nas suas escolhas, mesmo que não sejam as dele. 
Porque o comum neles é sempre desejar a felicidade dos filhos, dos netos, é deixar ser quem são e estar ali, a ouvir, a apoiar, a sentir as dores e a abraçar como só os pais sabem fazer. E como eles tenho felizmente outros grandes exemplos na minha vida. Tios, amigos, primos.
Feliz dia do pai a todos os “meus” pais. 💙

terça-feira, 13 de março de 2018




Em miúda, na primária, não havia ano em que não escrevêssemos uma composição sobre a Primavera. Na altura escrevia as frases-chave, “dias mais compridos e quentes”, “o regresso das cores”, “brincar mais lá fora” e ficava-me por aí. Na verdade, eram cópias atrás de cópias das fórmulas já apresentadas nos livros da escola. Nunca na vida me tinha dado ao trabalho de observar a Natureza.
Depois, na adolescência, a primavera tornou-se a minha Nemésis. Com a sinusite no auge, dores nos olhos, nariz pingão, a última coisa que eu queria era lembrar-me que era primavera.
E eis que agora encontro outra paz nesta coisa de observar a mudança das estações. E sim, muito particularmente da Primavera. Porque é mesmo algo por que ansiar, uma espécie de luz no fim do tunel do Inverno (e se eu gosto de Inverno, pessoas). E dá-me um gozo enorme observar que mesmo por entre as tempestades que nos assolam nestes dias, a Primavera continua a vir. Não há alterações climáticas que impeçam as estações de mudarem, mesmo que as estações estejam um pouco bipolares nos dias que correm. E a Primavera é a que mais facilmente nos entra no espírito, e realmente nos alegra e nos faz acreditar em dias mais luminosos. Uma estação optimista. E tem-me dado um gozo gigante registar o desenvolvimento, o desabrochar desta estação ao longo dos dias, lá para o meu instagram. Um dia não é igual ao outro, mesmo que estas semanas pareçam um longo dia de chuva. 

segunda-feira, 12 de março de 2018

Um mês depois estávamos à volta da cama prontos a escolher roupa. Depois dos procedimentos legais é sempre da roupa que se trata. Abrimos caixotes, sacos e revirámos gavetas. Separámos roupa, guardámos algumas coisas para nós, outras para dar. Outras para o lixo. Encontrámos recordações que vos démos num passado distante. Encontrámos objectos perdidos na memória. E eis que sai um casaco de homem do guarda-fatos. O meu tio questiona-se se será dele uma vez que aproveitava o espaço para alguns fatos dele, mas ninguém o reconhecia. Por baixo havia um colete. Era um fato de cerimónia. E percebemos que aquele fato deveria ter sido usado apenas uma única vez, há cerca de 60 anos atrás... era o fato de casamento do meu avô. Um silêncio comovido e espantado tomou-nos. Tantos anos depois da morte do meu avô ainda há tanta emoção e amor. E percebemos que este luto, esta arrumação vai ser longa. Porque a minha avó era a última. E nas recordações dela vão estar muitas outras de outras vidas. Do meu avô, da minha mãe, da minha prima, da minha bisavó. Tantas vidas por detrás de uma só. Preciosidades. Um tesouro. A nossa família, viva e morta, toda ali.

7 meses

Há dois meses escrevi este texto, quando o meu filho fez 5 meses. E num piscar de olhos já tem 7. Mais uns dias e começo a planear a festa de aniversário dele. O tempo voa, foge, corre. E é delicioso tanto quanto assustador.

Há 5 meses, no hospital, depois de tantas horas na sala de partos sem sucesso, uma rápida decisão da médica mais antipática de sempre e vi-me noutra sala, de luzes mais brilhantes, de instrumentos, de prontidão. A médica podia ser antipática, mas foi eficaz. Pareceu-me que não passaram mais de 10 minutos desde que me abriram e agitaram as entranhas, quando ouvi um choro rouco que, percebi ali, estava directamente ligado ao meu coração, bastou-me ouvi-lo para os batimentos aprenderem um novo ritmo. Lembro-me de morrer de curiosidade para o ver, e a anestesista (cuja simpatia suplantava a antipatia da médica) ia-me descrevendo o Gonçalo, cabeludo, moreno, pesa 4,200kgs, tão grande! (“Ainda bem que saiu por cima e não por baixo“- nunca mais me esqueço disto). 

E enfim trouxeram-mo, para junto do meu pescoço, e eu senti a suavidade da pele dele na minha, e a lutar para as lágrimas não saírem, falei-lhe. O choro dele interrompeu-se, os olhos abriram-se e eu juro que ele me viu a alma. Reconhecemo-nos, conhecemo-nos. A vida pode atirar-nos para direções opostas e sei que virá um tempo em que ele não me quererá por perto, por isso agarro-me tantas vezes a está memória, bebo todos os momentos, mesmo aqueles mais difíceis do início, quando não sentia ainda “aquela” ligação, “aquele” amor. Não é imediato, é um facto. Mas o tempo dita que as coisas se ajustem, e hoje não falta cumplicidade e amor nos nossos gestos mútuos. Também há muito gozo, porque acredito que o safardanas já tem sentido de humor e goza com a minha cara todos os dias. 

Esta madrugada, uma particularmente difícil, ele não dormia e eu sinto-me por vezes uma miúda com um bebé nas mãos e não percebo muito bem como isto me aconteceu. E sou tomada de uma emoção que me suplanta e esmaga e percebo... foda-se, sou mãe!💙

sexta-feira, 9 de março de 2018

Esta coisa de regressar donde, no fundo, nunca se partiu

Queria deixar respostas a cada comentário que se deram ao trabalho de escrever no post anterior mas fiquei tão maravilhosamente comovida com as vossas palavras que não sabia bem o que dizer. Obrigada antes de mais por tirarem um bocadinho do vosso tempo para me presentearem com as vossas palavras, logo eu que, apesar de vos ler sempre que posso, falho redondamente na parte de comentar.

Com isto queria apenas dizer que os posts vão começar a ser mais curtos, mais simples. Se já não eram muito planeados, agora ainda são menos. Muitas vezes dava por mim a escrever alguns pensamentos no meu Facebook pessoal e a pensar que gostava de os partilhar ou elaborar por aqui. Pois bem, não há tempo para elaborar, por isso vou abraçar esta nova fase com conversa mais rápida e espontânea, as imagens e fotografias que conseguir quando conseguir, e toda a alegria de aqui voltar mais assiduamente. 
De um início de ano assumidamente mais triste e cabisbaixo esta coisa de tentar voltar ao blog anima-me muito. Sem planos editoriais, sem grande critério, mas muito eu. E vamos lá a isto...

quinta-feira, 8 de março de 2018

Este é o post que ando a escrever há semanas e não termino...

Queria escrever mais no blog mas não consigo. Sinto que se perdeu um pouco o objectivo. Já não desenho nem pinto nem crio. A minha cabeça faz planos mas as minhas mãos e corpo não conseguem acompanhar.

Não escrevo tanto porque ando triste. A morte da minha avó foi um golpe duro de roer e tentei escrever tanto sobre isso que me desalentei em exaustão de saudades. 

Não durmo, a maternidade está a ser um desafio constante ao nível do sono. Tenho pouco apoio da minha cara metade, não porque ele não queira, mas porque temos horários incompatíveis. 

Voltei ao trabalho há um mês. E agora até gosto de segundas feiras. No trabalho a mente descansa e foca-se. E não há falta de sono que me tire a vontade de escrever.

A maternidade é neste momento (ainda) uma grande parte de mim (creio que será sempre mas fui arrombada com a violência deste amor). Há dias em que quero mais bebés, no plural. Há outros em que quero apenas o meu pequeno Gonçalo e não quero fracturar o meu coração em mais pedaços de tanto amor porque não sei se aguento. E eu também quero ter-me a mim de novo. 

Escrevo textos melhores na minha mente do que o são no blog ou no meu diário. Escrevo muito mais na minha cabeça que no papel. Mas quero escrever.
O meu blog está diferente. Eu estou diferente.

Mas vou continuar a escrever. Porque eu gosto tanto de o fazer. Porque quero partilhar o que penso. Assim, sem grande objectivo e rumo.
Espero que me perdoem a mudança de direcção . Eu quero continuar a escrever mas o blog não pode ficar igual. Vai navegar ao sabor da minha vida.  

Vai ser bom.
E eu quero regressar.

mulheres

Dispenso flores neste dia. Dispenso desejos de “feliz dia”, dispenso presentes e promoções de lojas só e apenas dedicadas às mulheres. Eu hoje só queria sentir compreensão, carinho, reconhecimento. Permitam-me o desabafo... é difícil ser mulher, e se se for mãe acresce mais um nível de dificuldade, e se não há direitos, acresce ainda mais, se nasceste no lugar errado, ainda mais. Ser mulher é como os níveis mais difíceis dos videojogos, com os piores bosses. Não é possível existir uma igualdade plena porque os géneros serão sempre diferentes, as responsabilidades diferentes. Ainda assim, merecemos igualdade de oportunidades, de salários, de tratamento, de reconhecimento. Fazemos sempre mais e estamos sempre a dar provas de tudo. E não faz sentido. E hei-de sempre questionar isto. Ao mesmo tempo que assumo todo o meu quinhão de responsabilidades “femininas”. Com todas as contradições que isso implica. Eu sei. É complicado e por vezes muito parvo. 

Mas eu tenho sorte. Cresci em liberdade. Posso votar. Posso abortar. Recebo o meu dinheiro. Tenho o meu emprego. A minha casa. O meu carro. Os meus livros e as minhas coisas.  Tenho muito. Tenho oportunidades. E ideias, e projectos e vontade. Tenho tanto e estou tão grata. E ao mesmo tempo ainda falta tanto para me sentir igual aos homens.
Este dia ainda faz sentido. Para mim e para todas as mulheres. Para as minhas mulheres. As que me antecederam, as que me precedem, as que me acompanham. Mães, avós, irmãs, amigas, tias, primas. 
E agora, música.