domingo, 31 de dezembro de 2017

Uma espécie de balanço...

Este blog anda mais parado mas não está defunto. Perante a dificuldade em sentar-me para escrever com calma os posts que gostava (ou seja o que for, ainda só escrevi duas vezes no meu diário desde que fui mãe, e uma delas está incompleta), uma vez que tenho um bebé que faz sestas-relâmpago, é tão infinitamente mais fácil publicar nas redes sociais os meus pensamentos avulso e alimentar ali a minha relação virtual convosco. 
No entanto um balanço é sempre um balanço, e com a ajuda do desafio da Susannah Conway para Dezembro, o December Reflections, consegui um texto mais composto que já está na minha página de Facebook, e queria deixá-lo por aqui também porque tenho milhões de saudades de publicar algo no blog, ainda que se repita. Creio que publicarei mais coisas em breve, até porque com um novo ano vem uma nova palavra e acho que já sei qual a minha...

Tenho tido vontade de escrever e a minha mente tem vagueado incessantemente pelos balanços de 2017. Ainda tenho tudo tão desorganizado na minha mente, mas vou tentar dar ordem ao caos, devagarinho. Valham-me os temas deste desafio, que me ajudam a orientar o pensamento, ou pelo menos assim espero...
(Dia 11: I discovered that
Dia 17: I let go of
Dia 21: this year was 
Dia 27: 2017 taught me 
Dia 28: my wish for 2018)

2017 foi um ano de descobertas incríveis.
Foi o ano em que vivi a experiência mais incrível da minha vida que me virou tudo do avesso e tive de descobrir o meu novo eu. Quando fui mostrar (exibir) o meu pequeno ser no trabalho a minha chefe disse algo que me ficou e acho que é uma das expressões que mais reflecti ao longo dos últimos 4 meses e meio, que é “new normal”. Aquilo que era a normalidade já não o é. Foi tudo abaixo e agora é reconstruir com novos parâmetros e variáveis. E apesar do caos que por vezes se vive, é muito compensador ver determinadas coisas ganharem forma. 

Percebi que consigo ter vontade e determinação férreas, pelo menos assim foi com a amamentação e quero ver se não me esqueço disto para quando me quiser dedicar a outros projectos de vida. Dói, mas ultrapassa-se.
Acima de tudo, descobri que sou muito mais forte do que pensava, e a minha mente muito mais elástica e adaptável.
2017 ensinou-me o significado de resistência e de força. Ensinou-me mais sobre mim. Para o bem e para o mal. Sinto e vejo as coisas mais claramente. 

Foi este o ano em que me despedi da minha avó paterna, e vi a saúde da outra avó a deteriorar-se perigosamente mas cá se vai mantendo firme, ainda que com as inevitáveis sequelas. Sou grata por elas sempre. E fico feliz por o meu filho poder conhecer uma bisavó.

Este ano despedi-me também de complexos e de preocupações com o meu corpo. A gravidez deu-me uma tranquilidade e liberdade imensa. Depois de parir, e apesar da barriga que se manteve por uns tempos, das estrias que ficaram, da pele que ficou flácida, senti-me grata e apaixonada pelo meu corpo. Agora, já quase de peso recuperado, apesar de precisar de perder mais peso e de retomar uma alimentação mais saudável, e de voltar a exercitar-me, gosto do meu corpo mais do que nunca. Espero que esta paz perdure por longos anos. Libertei-me dos complexos e sinto-me pela primeira vez em muito tempo plenamente integrada no meu corpo.

Não vou negar, 2017 foi um ano algo duro, tudo mudou e eu fui largada no caos, a recuperar pouco a pouco. Chorei muito e penei muito. Acho que andei a piscar o olho a uma depressão pós-parto. Ainda me sinto a escrava das hormonas hoje em dia. Mas sinto-me mais eu, cada dia mais capaz. Enraizo-me no meu lugar no mundo, sinto-me forte para lutar as próximas batalhas. Descobri amigos improváveis e palavras de carinho onde não esperava. Assim como palavras ásperas e atitudes condescendentes onde não imaginava surgirem. Acho que faz parte.

Ainda assim, o balanço é positivo, muito positivo. 

Para 2018 só desejo saúde e alguma coragem. Tenho alguns desafios em mente, e claro, toda uma logística, uma nova normalidade para gerir. Que a força esteja comigo. 

Um feliz 2018 para todos os que me seguem e me lêem e têm uma paciência infinita para mim. Não sabem o quão importantes são. Obrigada por tudo.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

As coisas a que nos prendemos... e deixamos ir

Conduzi ontem o meu carro pela última vez. Foi o primeiro carro que tive em meu nome, que comprei. E tem uma história de muito amor e carinho que tenho trazido comigo nos últimos 15 anos. Que quero partilhar agora, que me despedi dele.

Creio que em 2000 o meu tio tinha direito a ter dois carros de serviço que podia passar a alguém da família directa, e que podia renovar a cada 2 anos, e decidiu usufruir desse direito para surpreender o meu avô e dar-lhe um carro... ou vários ao longo dos anos. 

Não me esqueço do momento em que o meu tio lhe passou as chaves para a mão no dia de anos dele, num Agosto já ido. 
A família toda sabia do segredo e estávamos na expectativa louca da surpresa. O meu avô era a melhor pessoa do mundo, merecia tudo o que lhe pudéssemos dar. Lembro-me tão bem daqueles momentos em que o meu tio lhe disse, a medo, não lhe fosse dar uma coisinha com a emoção. O meu avô nem podia acreditar. Ficou comovido. Todos ficámos.
Em 2002 veio o meu carro. Passou pelo meu avô, que infelizmente morreu antes de poder trocá-lo. E depois passou para a minha mãe, que o comprou. E quando ela morreu fiquei eu com ele. 

Antes tinha sido dele, e dela. Era importante por isso. Era um bom carro, económico e rápido e seguro.  Mas foi deles. E eu ali sentia-me protegida e segura. E tudo correu sempre lindamente. Gostava de pensar que eles me protegiam à distância. 

A realidade é que no fundo é só um carro e eu não podia continuar a usá-lo por muito tempo. Está velho e é pequeno. Para uma rapariga de 23 anos foi óptimo e era melhor do que eu imaginava. Se continuasse só eu, ficaria com ele até apodrecer. Para uma mãe de família não dá, simplesmente. Um dia teria de me despedir dele, de aceitar que a vida mudou e o carro envelheceu. Esse dia chegou. 

Mas nada me tira o gozo que foi tê-lo. Nada me tira o prazer de o ter conduzido, das viagens que fiz, da música que cantei a altos berros, das boleias que dei, de ter criado tantas memórias nele, de ter trazido o meu filho para casa nele. Foi meu 11 anos e foi maravilhoso. E agora vai dar gozo a alguém novo, que o vai apreciar certamente.
E eu vou começar uma nova fase, ter um carro a que não me prenda tanto emocionalmente, seguir em frente, ter outro estilo de vida. 

Quanto a eles... estão sempre comigo, a proteger-me à distância, seja onde e como for.

domingo, 17 de setembro de 2017

Ch...ch...ch...ch... changes

(Imagem: popsugar moms)

Não queria bombardear o blog com conteúdos chatos sobre maternidade a torto e a direito mas confesso que é inevitável uma vez que submergi neste mundo e ainda não consegui voltar em cheio. Provavelmente nunca voltarei ao que era antes, com tudo o que isto tem de assustador e libertador. Excepto nos pés, que voltaram a ser feios como dantes, assim como o meu corpo, que, tirando a barriga e alguma flacidez extra, parece ter voltado ao que era sem grandes dificuldades.

Ando perdida num mundo de fraldas, cremes para rabo, mamas e biberões, leite, muito leite, roupa pequenina e muito namoro com aquele pequeno ser que me retiraram das entranhas naquele dia de verão e que tenho vindo a conhecer cada vez melhor de dia para dia. E já passou um mês e uma semana. Por vezes parece que passou a correr, outras, parece que passou uma eternidade. 

Têm sido dias muito preenchidos, sem saber bem onde começa um e acaba o próximo, sucumbi um pouco ao pânico de mãe de primeira viagem (sabemos que será difícil, mas nada nos prepara verdadeiramente para a realidade), e o baby blues não ajudou nem um bocadinho. Tive a sorte de estar rodeada de família e boas amigas com quem desabafei os meus males, pedi conselhos (sou das últimas a ser mãe) e aos poucos superei as inseguranças e as dificuldades com a amamentação, que convenhamos, também é mais tramada do que a pintam. Estou num mundo muito mais tranquilo agora. Não é um mundo isento de sustos e inseguranças mas está a tornar-se aos poucos numa viagem mais amena em que me deixo perder nos doces sons do G. a dormir (ele ronca e é a coisa mais adorável de todos os tempos), das pequenas conquistas diárias, do reaprender da vida em casal e familiar neste pós-parto, da evolução que lhe vejo de dia para dia e as tentativas (muitas vezes frustradas) de encaixar as tarefas do costume quando ele assim o permite. 
Aos poucos as coisas vão encontrando uma nova normalidade e o meu coração enche-se de gratidão por tudo o que tenho. Ser mãe é provavelmente o meu papel mais difícil até hoje, mas acredito que será muito compensador.

E assim em jeito de balanço, depois dos dramas iniciais, já consegui ver os três últimos episódios do Game of Thrones, ainda que muito espaçados, já consegui ler todo o feed do Bloglovin, li um pequeno capítulo do livro que deixei pendurado antes do puto nascer, e já folheei meio catálogo do IKEA. Portanto para mim o saldo é super positivo. Nova normalidade, de facto.

Em breve espero contar-vos a história do meu parto, que, não sendo propriamente horrível (vá, por acaso até foi um bocadinho horrível), não foi nenhum passeio no parque e até merece um post só seu. Darei novidades em breve. Até lá, ando mais activa no facebook do blog e por vezes no instagram. Vemo-nos por aí malta!

sábado, 5 de agosto de 2017

Os meus pés são feios*

* ou uma pequena reflexão sobre o corpo, auto-estima e mudanças.

Toda a família do meu pai tem joanetes nos pés. Na família da minha mãe temos uma estranha especificidade em que temos o segundo e terceiro dedos unidos na base. A genética está contra mim, mas não é só isso.
Pratiquei desportos em miúda, e a patinagem artística em especial lixou-mos ainda mais, umas vez que era obrigada a apertar os pés nas botas dos patins, com dois ou três pares de meias, que acentuaram a tendência para joanetes e calos nos dedos dos pés (que por serem tão longos já parecem amendoins) e que não há pedicure que safe. Por fim juntamos a isso uma característica só minha, de nas laterais exteriores dos meus pés, a estrutura óssea espetar-se algures ali a meio, coisa que por vezes me causa desequilíbrios absolutamente parvos quando ando de - pasme-se!- havaianas. Isto para além de alargar o meu pé, não me permitir usar alguns modelos de sapatos, e ser feio, claro.

Há pouco encontrei esta foto no meu instagram pessoal, de há dois anos atrás. E adorei revê-los.
Estes são os meus pés, aqueles que contam histórias de família e a minha história, no geral. Os meus amendoins, secos e com as veias sobressaídas, em vez do pé de Shrek que desenvolvi agora no final da gravidez. E digo-vos, estou ansiosa de tê-los assim novamente, feios como eram. Já não me lembrava muito bem do aspecto do "antes", e tenho pensado neles, tenho saudades de senti-los fortes e sem dores dos inchaços constantes. 
Eu sei que os meus pés são tudo menos bonitos, mas não consigo de deixar de fazer tudo para que estejam confortáveis. Mesmo sendo mais feios agora, eles andam na areia, ou enfiados em chinelas, com todos os defeitos bem visíveis para quem quiser ver. Por vezes falhou a pedicure, mas nem por isso deixei de ir à praia, usar sandálias, apanhar ar quando precisavam. 
E o mesmo se aplica a outras partes do corpo. Usei bikinis mesmo no auge do peso porque gosto de bronzear o máximo de pele possível, t-shirts com os cotovelos secos porque estava calor, saias com depilação por fazer (vá, saias compridas, mas é sempre um "risco"). 
Não quero dizer com isto que sou a favor de uma pessoa andar desleixada, mas por vezes temos de largar o controlo de querer estar perfeitas e só sairmos de casa se estivermos impecáveis e sem falhas. Quero estar arranjada e cuidada, mas não quero depender sempre disso. Quero sair um dia sem maquilhagem e não ficar incomodada por isso.

Compreendo perfeitamente todos os complexos que possamos ter, eu tenho imensos, mas não percebo como é que há pessoas que se deixam dominar por eles. A ponto de deixar de fazer coisas, de não sair de casa, de não usar peças de roupa específicas. Gostaria que ninguém se sentisse assim, gostaria que todos encarassem os seus defeitos de estimação como eu encaro os meus pés (eu incluída nos outros defeitos mais difíceis de aceitar). Sim, são toscos, feios, imperfeitos. Mas são fortes, suportam o meu peso, calçam os sapatos da minha vaidade, consigo apanhar coisas com eles porque os meus dedos têm imensa mobilidade, calço-os e pratico desporto com eles, fotografo-os em cenários descontraídos (olá clichés de Verão) e demonstram um estado de espírito pacífico. E isto são só os pés. 
E se fizéssemos este exercício, de procurar os benefícios nas partes que menos gostamos no nosso corpo? E se nos desligássemos da absurda necessidade de tentar parecer bem? Aposto que quem me vê por aí nem repara nos meus pés feios. E se repararem... não vem mal ao mundo. Sou mesmo mais feliz assim...

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A história da minha barriga


Foto: Da minha maravilhosa Luísa Starling - eu suspiro tanto com estas fotos meu deus!!

(Há muito que quero escrever este relato, para mim, para não me esquecer, para relembrar, para recordar a sensação que foi todo este processo. Pode bem ser uma seca, ser a coisa mais maricas que leram nos últimos tempos, mas tenho de a escrever por aqui porque não queria guardá-la só para mim. Estou no fim do tempo, depois há-de vir a história do parto, de mil e um passos que terei de dar, das minhas aventuras na maior aventura da minha vida. Para já, esta é a história da minha barriga)

Dia 29 de Novembro calhou a uma terça-feira. Como em tantas outras, pelas 6h da manhã já estava acordada a começar o dia, mas desta vez a fazer o chichi matinal para um pau. Andava há 3 meses sem pílula mas já não estava a tentar. Na verdade nem tinha começado a tentar ainda.

Estava em recuperação de um tratamento ao colo do útero (que veio mesmo em cheio no meu timing) e não tinha ainda autorização para tentar engravidar. Mas, no meu desânimo de sentir que tinha mais uma vez um obstáculo quando fazia finalmente planos para ser mãe, mantive-me sem a pílula, recorrendo a outros métodos contraceptivos, na esperança de amenizar a frustração que sentia. Claro que houve uma falha algures pelo processo, porque dei por mim algures a meio de Novembro a estranhar porque raio não me vinha o período. Mas também podia estar a fazer mal as contas, até que no dia 28 dei por mim na casa de banho a perceber que tinha um atraso de 4 dias, e a conversar com uma colega minha com quem o dito se alinha quase na perfeição. Na verdade o meu vinha sempre antes do dela. Menos naquele mês. E ela a comentar os sintomas do costume, o desconforto e as dores. Não sei bem o que lhe disse mas esperei não ser demasiado óbvia da minha atrapalhação. Não podia ser.
Tinha passado por muito recentemente, o desajuste era certamente causado por stress. Se bem que eu conheço-me e sei que nunca me atraso. Mas tinha de tirar as teimas...Há sempre uma primeira vez para tudo.

Descrente dessa possibilidade, lá comprei um teste para fazer na manhã do dia 29, sonolenta e aborrecida. Preparava-me para o banho e não resisti a espreitá-lo, se bem que ainda faltava 1 minuto para terminar o tempo. E foi perante os meus olhos que a segunda linha começou a aparecer.

Já tinha feito testes de gravidez antes, e sei que a segunda linha não aparece para desaparecer em seguida, quando aparece é um teste positivo sem tirar nem por, mas mesmo assim dei por mim a falar com aquele pedaço de plástico "mas estás aí a aparecer para quê? Não posso estar grávida, não faz sentido! Sai!"
Mas não saiu, manteve-se firme (mantém-se ainda hoje, guardei-o e de vez em quando vou vê-lo numa espécie de gesto supersticioso a confirmar aquilo que o meu corpo já sabe há tanto tempo). Lembro-me de olhar para mim ao espelho e nada estar diferente. Nem nenhum inchaço, dor, enjôo ou seja o que for. Nada! Como é que podia estar grávida?

Acordei o meu homem, não podia processar aquilo sozinha. Nenhum de nós acreditava muito nessa possibilidade mas agora estava ali uma prova. "já fiz o teste e deu positivo!" Nem conseguia articular as palavras "estou grávida". Ele sorriu no escuro, um pouco nervoso. Eu nem sabia como reagir, mas aquele sorriso aqueceu-me o coração. Ele perguntou-me se eu não queria. Eu queria, mas o timing não era certo. E se tivesse de interromper? E se houvesse problemas por ter engravidado cedo demais? 
Passei a manhã toda num impasse enquanto esperava a resposta à sms desesperada que enviei à minha ginecologista/ob, para saber como me podia sentir. Acarinhei o pensamento de que pelo menos era capaz de conceber, se tudo o resto desse errado, sabia que poderia começar de novo mais tarde e as probabilidades estariam a meu favor.
E recebi o abençoado telefonema, com aquela voz jovial da minha médica (adoro-a) a acalmar-me, a dizer que tudo bem, avançamos sem problema, a dizer quando marcar o quê e com quem, os cuidados extra a ter e basicamente a abanar a bandeirola de... "agora vais mesmo ser mãe".

Mas a barriga... não me habituava à ideia. 
Sem um único sintoma estava ainda profundamente incrédula. Estava de 4 semanas, era cedo para tudo. Mas as dúvidas acumulavam-se. Iria realmente crescer um bebé dentro de mim? A sério?! Não fazia sentido nenhum.

Comecei a tirar fotos todas as semanas, mas confesso, parei rápido, parecia apenas que tinha só mais um pouco de gordura. Não gostava de me ver e não me parecia especialmente diferente. Os sintomas apareceram aos poucos. Primeiro alguns enjôos (felizmente lá para a semana 18 começaram a dissipar-se), depois as comichões e dores no peito, mas basicamente era isto. Vi uma mancha palpitante e esbranquiçada na primeira consulta com ecografia em Dezembro e mesmo assim parecia estranho. Mas estava lá, ia crescer dentro de mim e nascer no Verão. Um bebé de Agosto, um leão.

Numa manhã de Janeiro, em que, como sempre era a primeira a levantar-me, olhei para o espelho da casa de banho e pela primeira vez notei que a barriga estava espetada. Uma coisinha de nada, mas já fazia diferença. Já me sentia uma espécie de grávida. E parecia possível que a barriga crescesse afinal. Tirei a selfie de casa de banho mais ranhosa de sempre, de pijama, despenteada, num cenário caótico, e ainda hoje remeto esse dia comoi o início da mudança mais incrível do meu corpo. 

Agora olho e já não me identifico com aquela barriga pequena. Eu achava mesmo que estava gorda? Achava impossível vir a ter aquela circunferência perfeita que ainda hoje é o formato da minha barriga. E não sei explicar, mas a partir daquele dia o crescimento foi sendo contínuo e eu sentia a diferença quase diária. Tirei muitas selfies, a evolução era tão óbvia, tão natural. Algures a meio do processo senti mesmo que esta experiência era algo tão inacreditavelmente estranho, mas ao mesmo tempo, a coisa mais natural do mundo

Engordei mais do que devia em Março, mas com a morte da minha avó, e com a outra avó também em risco de vida (felizmente cá continua, saudável, depois de um período mais complicado), desorientei-me, comi demais, não quis saber. Aos 6 meses era uma grávida gorda. Braços mais maciços e ancas mais largas. 
Não perdi peso, mas no mês seguinte recuperei a estabilidade da coisa. A barriga cresceu cada vez mais, o resto do corpo manteve-se, e sinto que recuperei o equilíbrio. Na minha família há historial de grandes barrigas e a minha não é excepção. O corpo vai exigir atenção e cuidados sérios, dieta adequada, mas... Isso é depois.

Agora, já não sei o que é ter uma barriga normal. Flutuo entre o estado de espírito em que quero o meu corpo de volta (apesar de saber que vai regressar amarrotado e "usado" - as estrias já apareceram, mais uma obra genética fofinha, mesmo andando barrada de cremes e óleos), e a incredulidade em vir a ter um corpo dito "normal" depois disto tudo. Agora estranho a ideia de não ter barriga. Sinto-me perfeitamente ajustada, perfeitamente equilibrada assim. Mesmo com dores, mesmo com o desconforto de carregar uma barriga enorme, cheia de bebé e líquido amniótico. Mesmo com a ansiedade de ver finalmente a cara por detrás de tanto pontapé e reviravolta.

Sinto que usei as capacidades do meu corpo em pleno. Este processo fez-me conhecê-lo, e sentir-me bem em situações tão diferentes. Sinto-me segura, sinto-me eu. E faz-me sentir relativamente tranquila quanto ao desafio que será recuperar a forma, cuidar de mim, reaprender a movimentar-me depois das dores pós-parto. Depois disto sinto-me capaz de tudo.

Esta foi (é?) a história do meu processo, da minha evolução, da minha barriga. Das estranhezas e da naturalidade, a conviverem em conjunto.
E agora é altura de me despedir, de abraçar outro desafio, outros, plural. Termina hoje o tempo, espero não ter de esperar muito mais, agora quero ser mãe, mesmo sabendo que vou sentir saudades, que vai custar dividir-me em dois quando me senti tão bem e tão em paz comigo mesma.

Aplaudo desde já os corajosos que leram isto até ao fim. Obrigada pessoal, tão cedo não vos faço uma destas, eu prometo (tipo, o post do parto será curtinho ou dividido em vários para não enjoar).

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Por aqui...

Não, ainda não pari. Tanto quanto sei, o pequeno continua encantado com o T0 que é o meu útero e não tem grande vontade de conhecer o mundo cá fora. Ando longe e distante porque nos dias que correm as sinapses já não funcionam como antigamente. Não sei se é do calor, se é de ter esta barriga de melancia a desequilibrar o meu centro de gravidade, a verdade é que mal durmo, mal mantenho um raciocínio e a vontade de fazer seja o que for que não implique preparar a casa e a chegada do miúdo parece-me demasiado cansativo (nesta altura já são tarefas automáticas, por isso, é quase como um passeio no parque...).
Não que não me interesse por outras coisas e outros afazeres, mas realmente sinto que neste momento não dá, e mais do que nunca, há que respeitar a vontade do corpo e dar-lhe alguma tranquilidade nesta fase. Nem me tem apetecido postar no instagram...

Mas não significa que não ande razoavelmente activa, apenas cansada demais para ter uma vida social mais intensa (perdão a todos os que tenho deixado pendurados nestes dias), para grandes deslocações ou até conversas mais profundas sem desatar a bocejar ou a deixar a mente vaguear.

Os meus esforços concentram-se essencialmente em escrever, ler e descansar/ver tv nestes dias (vou tentar esquecer que andei o fim-de-semana todo a ver o Botched no canal E!), e tentar retomar a prática do yoga pré-natal que descobri no Youtube e gosto bastante.

Queria com este post apenas dizer uma ou duas coisinhas...

- A Susannah Conway (ainda preciso de a apresentar?) lançou um Mid-year check para complementar o Unravel the year. Sendo fã deste processo e este ano ando super certinha com isto, estou a adorar escrever, especialmente porque a primeira metade do ano foi muito baseada na minha gravidez e em muitas aprendizagens que tenho feito a nível de vida familiar e estar a fazer um balanço parece-me uma boa antecipação para a próxima fase em que serei mãe e sabe-se lá o que me vai passar pela cabeça entretanto... Quem quiser, é so seguir o link e agarrar.

- Comecei a ver o This is us mas ainda não me apeteceu chorar baba e ranho. Deve ser lá mais para a frente, não? 

- Tenho feito algumas aguarelas com a minha enteada e devo dizer que é das tarefas mais deliciosas dos dias que correm. Passar por este processo com uma criança é super divertido. Ambas evoluímos e divertimo-nos e estreitamos cada vez mais a nossa relação. Mostrarei algumas coisas em breve.

- Estou a ler o livro desta moça e estou a adorar cada parágrafo. Apetece-me oferecê-lo a toda a gente e ainda só vou a meio.

- Não sei se é do nesting ou o raio que o parta, mas mais do que nunca ando numa loucura de voyeurismo imobiliário e passo a vida a perder-me em revistas e sites de decoração e a ver o Property Brothers e a imaginar como seria viver aqui ou ali, ou que obras faria, ou que casas compraria. Quero muito um jardim, mas infelizmente agora não dá. Alguém sabe como é que se desliga isto?

- Começo a ter uma ansiedade crescente em conhecer o meu filho e começar finalmente a usar as coisas que andam preparadas há séculos. Parece que ando a encenar um espetáculo há semanas e nunca mais chega a data de estreia. Ando mais atenta que nunca aos sinais do meu corpo mas sempre que posso, durmo, descanso, dou-me uma folga. O calor ajuda à letargia.

- Por fim, e numa nota muito maricas e pessoal, ando encantada com a dose de amor, carinho e generosidade dos meus amigos e conhecidos para comigo e com o pequeno. Tenho recebido um apoio maravilhoso, prendas deliciosas, e juro que não sei o que fiz para merecer esta generosidade tão grande de tantas frentes. Sou uma sortuda do caraças.

Tentarei voltar assim que ganhe ânimo ou vontade ou me apeteça dizer disparates ou coisas úteis (o que vier primeiro). 
Boa semana meus amigos!

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Anne, com E

O Netflix veio para tornar a minha vida melhor, não tenho dúvidas.
Se há dias em que odeio a forma como o sistema tem falhas, bloqueia, não mostra a lista completa de filmes e séries, tem todo um outro lado que me entusiasma, em particular, esta coisa de dar voz e espaço a produções novas e diversificadas. (trouxe o Gilmore girls de volta e só por isso tem o meu amor incondicional).

E a Anne with an E, uma nova abordagem ao clássico "Ana dos cabelos ruivos", que foi SÓ o desenho animado que mais me tocou em criança tinha tudo para e encher as medidas, e quando li o primeiro livro da saga há uns anos, foi um dos poucos livros que me fez chorar, mas admito... Não sabia muito bem o que esperar dali. 
Haviam algumas coisas garantidas, a paixão pela vida, o entusiasmo, os delírios e sonhos de olhos abertos da pequena Anne que adoraria chamar-se Cordelia e vestir vestidos de mangas tufadas, que se perde na leitura e na fantasia e entusiasma-se com as pequenas coisas e faz as perguntas mais inusitadas.


Mas o que poderia realmente mais uma série acrescentar àquilo que já conhecemos desta adorável miúda?
Aparentemente, bastante, fiquei agradavelmente surpreendida com a perspectiva fresca, muito feminina - e feminista - com que contam a história.
Começa logo no primeiro episódio, quando a Anne, sabendo que os irmãos que a adoptaram queriam um rapaz para ajudar na quinta e a querem devolver ao orfanato,  dispara que pode fazer o trabalho ela, que é rija e forte e pode fazer o que qualquer rapaz faz também. 
E depois vão surgindo subtilezas aqui e ali. Os preconceitos da pequena sociedade fechada para com a miúda órfã, o desespero juvenil das mudanças do corpo, da adolescência numa época em que esta fase era vivida em segredo, os pensamentos progressistas e a luta pela afirmação, pela igualdade feminina, e inclusive... uma menção muito óbvia à homosexualidade, cuidadosa e desprovida de preconceitos, porque a Anne é mesmo assim - há uma série de detalhes que não existam antes mas que foram insinuados com tanto cuidado e tão bem incorporados na história que não destoam com a história fantasista e alegre daquela miúda cheia de imaginação. 


Devorei a série em 3 tempos, foi uma viagem ao passado, a piscar o olho ao futuro. Se também cresceram com as aventuras da Anne, vejam esta série, não se vão arrepender. A pequena actriz principal, Amybeth McNulty, é a personificação perfeita da personagem, e aquele genérico inicial está absolutamente delicioso,o verdadeiro eye candy. Faltará muito para a próxima temporada? Estou rendida.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Body building, body being

(Sem criticar, sem me lamentar, hoje saiu-me este texto, ao ver uma newsletter de uma conhecida marca de sapatos e ao rever algumas fotos antigas no Instagram... E de repente caiu a ficha e como tudo mudou recentemente, com a gravidez mas não só. E hoje senti saudades, apenas, de como as coisas costumavam ser.)

Tenho saudades do meu corpo.
O meu corpo normal, o meu, desinchado, com cintura, menos celulite, menos rabo, menos carne no geral.
Tenho saudades de calçar sapatos de salto alto. De caber nesses sapatos. Tenho saudades de comprar sapatos pela beleza, mais do que pela funcionalidade, e tenho saudades de me equilibrar a 10 cm ou mais da minha altura sem dores ou desconfortos (houve mesmo uma altura assim).
Tenho saudades de sushi, de comer com pauzinhos, beber saké ou vinho branco.
Tenho saudades de me vestir cuidadosamente, de ir a um qualquer evento inesperado, de me maquilhar (mesmo a sério).
Tenho saudades de pular, de fazer boxe, de correr, de suar de cansaço físico. Tenho saudades de sentir os meus abdominais.
Tenho saudades de me levantar sem esforço ou apoio. Tenho saudades de assentar os pés no chão e não sentir dores. 
Tenho saudades de não ressonar.
Tenho saudades do meu corpo ser meu. E sei que vou continuar a ter saudades por algum tempo, porque vou demorar a reconquistar o meu corpo.

Mas sei que também vou sentir orgulho em tudo o que o meu corpo faz agora, mesmo com as dores de pés, de costas, na barriga, mesmo com os inchaços inesperados e dificuldade em mexer-me.
E virá o dia em que terei saudades deste dia, deste estado, e de todos os movimentos e encontrões dentro de mim, desta intimidade, desta ligação que construo diariamente com o meu filho. Sei que vou ter saudades de tanto do meu corpo ao longa da vida, porque tudo vai mudando. 
It's all good. Faz parte.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

35 anos, 35 razões para sorrir

Eu confesso, ando para escrever um post de aniversário mas deu-se-me a preguiça. Chegar aos 35 anos, a este aniversário em particular enquanto espero o bebé que aí vem teve um impacto grande em mim.

Estou algo dividida entre uma felicidade parva de estar numa fase da vida tão aguardada e cheia de expectativas boas, e ao mesmo tempo, 35 anos é uma idade respeitável, e eu não sei se sei ser adulta e respeitável(!) e vou ser mãe.  É que se fizermos as contas, deixei os 25 para trás há exactamente 10 anos, com esta idade não só já assumo total responsabilidade da minha vida, como já tenho muita coisa resolvida e orientada (ainda não descobri o que quero ser quando for grande, mas cheira-me que esse vai ser um work in progress constante). E só faltam 5 anos para os 40! Estou para ver se já me tornei numa adulta respeitável por essa altura...

Photo by MARK ADRIANE on Unsplash

No entanto, perante estas dúvidas existenciais parvas a minha escolha recai (sempre) em ser feliz. Sim, é um impacto grande que já tenho 35 anos e não me sinto muito diferente da adolescente de 19, mas caramba, estou viva!

O que me leva a este post só porque sim, para não me esquecer que há mil e um motivos para ser feliz  mesmo vendo os anos a passar a uma velocidade incrível, e merece sempre a pena enumerá-los.

Sem mais demoras, aqui seguem eles.

1- Tenho saúde
2- Tenho uma família incrível que com mil e um defeitos, acarinha-me sempre e me faz sentir segura
3- Tenho a irmã mais espetacular da História
4- Continuo apaixonada pelo meu moço como se fosse uma adolescente
5- Criei um pequeno núcleo familiar que me deixa plena (e com quem aprendo tanto tanto)
6- Tenho um bebé na barriga quase a vir cá para fora
7- Tenho uma enteada linda e maravilhosa que tem um sentido de humor bestial e é uma criança fácil de lidar (na grande maioria das vezes)
8- Tenho trabalho
9- Sem estar a rebolar em euros e em excessos, vou tendo o dinheiro para pagar as contas e consigo ter os meus extras e poupanças (adoro as minhas sovinices)
10- Tenho uma casa pequena onde a minha família se vai apertando, mas somos tão felizes debaixo deste tecto!
11- Estou sempre rodeada de criatividade e novas ideias
12- Tenho sempre livros para ler (o que me leva ao próximo ponto)
13- Já tenho cartão da biblioteca
14- Ainda sou uma sonhadora
15- Acredito em amor-para-sempre (não sem trabalho e compromisso, mas sei que é possível)
16- Tenho amigos fantásticos que me são tão fiéis e carinhosos e juro que não sei o que fiz para ter pessoas tão maravilhosas por perto
17- Tenho uma elevada resistência ao álcool, acho que com a gravidez foi à vida, mas como...
18-... Gosto de ver tudo pelo lado positivo - quando voltar a beber serei muito mais poupada
19- Tenho sempre cadernos onde escrever e desenhar
20- Nesta fase posso dormir sestas (muito importante)
21- Tenho cada vez mais cabelos brancos, e sim, quando descobri o primeiro fiquei em pânico porque  o meu cabelo é a minha maior vaidade, mas nos dias que correm... adoro vê-los a aparecer quais ervas daninhas, não me perguntem porquê, dá-me gozo
22- Tenho uma cama super confortável onde dormir
23- Estou viva nesta fase de redes sociais e partilhas ilimitadas e onde posso ter contacto com tudo e com todos
24- (ainda) tenho uma boa memória
25- Tenho uma biblioteca com livros absolutamente incríveis como este e este
26- A minha avó desafia os problemas de saúde e cá continua rija e com mau-feitio
27- A Fox Comedy está sem sinal aberto o verão todo (não sei se vou usufruir muito daqui a uns dias mas até lá vá de aproveitar)
28- Às vezes de noite eu e ele semi-acordamos e damos as mãos no escuro e é provavelmente o gesto mais doce de sempre
29- Safo-me bem a fazer doces e bolos (não é bom para a linha e saúde mas todos precisamos de mimos desses de vez em quando - falando nisso vou ali buscar uma fatia do meu bolo de anos)
30- O sentido de humor impera em minha casa, fazemo-nos rir e isso é impagável
31- Tive uma Mãe que não tenho como a descrever (as palavras não são suficientes), e entre o bom e o mau, mesmo com a perda dela, tudo o que precisei aprender na vida ainda reside na figura dela (e ainda há muito a desvendar)
32- Moro num sítio que adoro, posso ir à praia a pé
33- Tenho quem me ature as neuras (e que paciência precisam de ter para mim nessas alturas...)
34- Tenho tido uma gravidez saudável e com surpresas muito agradáveis contra as minhas expectativas pessimistas (agradeço todos os dias por isso)
35- Recebi montes de cremes cheirosos nos anos 

E a lista poderia continuar para coisas ainda mais simples ou parvas, mas que me deixam um sorriso na cara. Espero que nunca percamos a capacidade de ver a felicidade e alegria nas pequenas coisas, passem 35, 45 ou 75 anos (a idade que sinto realmente ter, porque esta mobilidade, meus amigos, está tramada). Um óptimo dia para todos.

domingo, 2 de julho de 2017

Em jeito de fecho da primeira metade do ano...

Um dos meus grandes objectivos pré-mãe era terminar de escrever o meu diário, que escrevi até à última linha da última página. Calhou mesmo bem fechá-lo nesta fase, em que o ano chega a meio e gosto de reflectir no que fiz e no que vem aí. E que a minha vida esta prestes a mudar... sabe bem começar algo novo para fazer parte da nova fase também.



Como sabem, este ano decidi dedicar-me mais a esta tarefa da escrita. Ando mesmo a coleccionar material de apoio no Pinterest, tudo o que me guie neste processo de auto conhecimento que iniciei mais à séria no ano passado.

Ainda estou a arranhar a superfície, mas sabe-me bem verificar que escrevo mais páginas de cada vez, que faço reflexões tanto em fases negativas como positivas, que procuro mais e mais formas de me manter em contacto com o meu bem-estar.

Terminar este diário foi uma sensação única, nunca o tinha feito antes. Em miúda tive vários cadernos e diários onde desabafava os meus males e desamores, as dúvidas e dores de crescimento, mas nunca foi uma tarefa consistente e invariavelmente encostava-os a um canto até que me apetecesse iniciar novamente a tarefa... num caderno limpo que invariavelmente abandonava da mesma forma. 

O diário que agora terminei foi-me dado nos meus anos pela minha irmã há (quase) 3 anos. Iniciei-o com pequenas histórias e evasões da realidade, que na altura me estava a ser bastante dolorosa. O diário acompanhou-me na minha separação, no despertar da nova relação, em viagens, ajudou-me a encontrar a palavra do ano e guardou memórias que não me quero esquecer. Ajudou-me também a descobrir a origem de tantas coisas em mim, a colocar as peças do puzzle em ordem, a perceber onde estou e para onde quero ir. Acompanhou-me em bons e maus momentos, tanto terminava uma entrada com um sentimento de gratidão, como dois dias depois desabava-me o mundo e lá ia eu, desabafar mágoas. A vida é cheia de altos e baixos, mas no meio da loucura que por vezes um diário possa ser, consigo encontrar um fio condutor e perceber que tudo faz parte da minha história e evolução. 

Hoje, em que estamos exactamente a inaugurar a segunda metade do ano, fez-me sentido este post.
E só porque me apetece, vou partilhar algumas coisas que escrevi por lá, e que olhando para trás fazem-me sorrir, e sentir-me mais segura do meu percurso, com todos os altos e baixos que implica.

"(...) Um dia de cada vez, uma página, um parágrafo de cada vez. Não precisa de saber para onde vai, nem precisa de saber como acaba a história, porque o importante é começar. 
Hoje. Agora. Aqui. (...)"
(primeira entrada - 07-07-2014)

" Se eu pudesse cristalizar estes momentos de gratidão e felicidade pura, fazia-o, e olhava diariamente para eles, para nunca me esquecer. Resta-me a escrita para deixar a memória presente em qualquer lugar. (...)" 
(28-12-2015)

"Eu sei de uma coisa. Eu não vou parar, se não me sinto bem, ou confortável, ou feliz, eu sei que vou fazer algo para mudar o que estiver mal."
(26-02-2017)

Agora que venha a segunda parte. Que vou inaugurar com o meu aniversário. Parece-me uma boa.


segunda-feira, 26 de junho de 2017

E depois acontecem assim... coisas

Tenho andado com dezenas de planos em mãos para os dias em que ficaria em casa. A prioridade seria sempre preparar tudo para o nascimento do bebé, depois, orientar e preparar algumas coisas em casa, costurar, ler todos aqueles livros que sei que não vou ter tempo para ler quando ele nascer, fazer os cursos online que tenho pendurados, fazer ilustrações espetaculares, escrever muito no meu diário, no blog, e lançar uma nova imagem espetacular para o mesmo, com inauguração com pompa e circunstância e o presidente a cortar a fita com uma tesoura gigante... Mas sabem que mais? 


... A vida nem sempre é como se planeia, e quando detalhamos este e aquele passo, quando os encaixamos em sequência na nossa lista de tarefas, damos conta que nem sempre as coisas seguem os pressupostos iniciais e nem sempre temos energia para as coisas. Subestimei esta fase e na verdade, estou de rastos, ando mais ansiosa do que previa, com muitas insónias, sempre com mil coisas a fazer, a sensação que tudo depende de mim, e muito pouca energia (e mesmo assim já risquei muitos items da minha to-do list), cansada da sensação que não faço o suficiente, de ainda não ter decidido isto ou aquilo, de não ter visitado o hospital, de não ter feito um curso pré-parto (e não quero mesmo fazer um, será que vem mal ao mundo por isto? Mas antes as mulheres não pariam sem cursos e esse tipo de preparações?)... Eu sei que estou rodeada de apoio e óptimas intenções, mas começo a não ter espaço para tudo, e começo a ver a meta e confesso... este desconhecimento do que aí vem assusta-me um pouco. 

Não por ter de tratar de um bebé, de ter um ser dependente de mim, o parto não me faz espécie, nem as provações da amamentação (excepto não poder beber álcool). Talvez seja ingénua, talvez seja egoísta, mas a verdade é que o que me assusta e não saber até que ponto a minha vida vai mudar, até que ponto vou deixar de ter tempo e cabeça para aquelas coisas que adoro fazer e será que vou sobreviver sem elas, por muito que o meu filho venha a ser um ser adorável e por muito que me imagine a passar horas intermináveis a cheirá-lo e a admirá-lo (porque claro que isso vai acontecer). Conto com as hormonas para me fazerem cair de amores pelo pequeno ser que me pontapeia sem dó nem piedade (as we speak) e me façam afastar os receios de me tornar menos eu, de me afundar num mundo de maternidade e domesticidade que não sei se me adequo.

E tudo isto para dizer...
Tenho uma imagem nova no blog. 

Comecei esta manhã devagarinho, com vontade de olhar para isto com olhos de ver, de me organizar e orientar, de talvez por ordem no tasco e isto começou a desenvolver-se para lá do meu controlo e agora já está, sem planos, sem um lançamento adequado, sem pompa e circunstância, apenas a imagem que eu já desenvolvi há uns tempos, um código de cores definido num tirinho, enfim, tudo aquilo que desaconselho e me tento afastar no meu dia a dia. 

(Photo by Clem Onojeghuo on Unsplash)

Claro que não foi tudo à balda e esta preparação já tem alguns meses, mas ainda assim, é interessante ver as coisas a surgir assim do nada. O meu lado control freak está um pouco confuso, mas como vejo em tantos sítios e tanta frase feita... done is better than perfect. Não creio que isto esteja para já terminado, ainda faltam acertar bastantes detalhes e talvez isto ainda vá mudar novamente mas... apeteceu-me tanto começar a usar o meu novo logo, apetece-me tanto que o meu blog tenha uma cara nova ao fim de tanto tempo, e queria que fosse antes do bebé nascer e de eu ser engolida pela maternidade... Não resisti.

Depois de meses de planeamento, listas detalhadas no Evernote, artigos e posts lidos sobre branding, e tanta pesquisa... é isto. Surgiu um pouco do nada, a surpreender-me.
Como a vida aliás. 

Porquê simplificar o nome do blog e passar a ser "A box" (se bem que mais nada mudou)? Porque esta caixa, ainda que minha, é feita de tanta coisa que não sou só eu. Contém os meus pensamentos, desejos, a minha criatividade e alguns sonhos, mas também as influencias dos outros em mim, a vossa energia que me acompanha, e, se pensarmos bem, não será muito diferente das vossas e é mais uma no meio de tantas. Todos guardamos o que nos é mais queridos nas nossas caixas... colecções, fotografias, desenhos, cartas, lápis, sapatos, bolos...
Bem, na verdade talvez não existam caixas, e estamos sempre a tentar pensar fora da dita, mas seja como for... precisamos de um sítio para guardar as ideias no fim do dia. Este é o meu.

Espero que apreciem e me digam o que pensam, está sempre tudo em aberto e eu prometo que não serei (demasiado) sensível às críticas negativas.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Eu apenas, grávida


Como tinha dito por aqui, queria muito tirar fotos "descomplicadas" da minha barriga, e combinei desde o início com a Ana Luísa. Conheço-a há alguns anos, adoro o trabalho dela, confio nela e sei que me iria sentir mais tranquila com ela por detrás da câmara. Não tenho jeitinho nenhum para que me tirem as fotos, e confesso, no início, estava super atrapalhada (e vendo as fotos todas na sequência certa, vê-se bem a evolução do meu estado de espírito e conforto ao longo da sessão), no entanto, do início ao fim não continha um sorriso e uma alegria enorme por fazer este processo com a Lu, ainda mais onde foi.

Encontrámo-nos no LX Factory a semana passada, decidimos que uma sessão num ambiente urbano seria interessante e diferente do cliché dos jardins e da luz filtrada pelas folhas. Este sítio guarda imensas memórias nossas do início da nossa amizade, quando fazíamos as caminhadas ali pela zona, ou eu ia lanchar com ela ao cowork quando ela por lá trabalhava, por isso tinha tudo para nos inspirar a ambas. 

A Lu preveniu-me para não levar demasiados adereços, ao que eu respondi que não tinha interesse nenhum em trazer coisas da criança para a sessão. Não gosto desses artifícios. Na verdade, fui apenas eu, o meu vestido cor-de-rosa e nem me lembrei de trazer sequer uns brincos. Mas acho que isso funcionou a meu favor.  Apesar de me sentir já muito pesada e inchada nesta fase final, sinto-me bastante bem sendo apenas eu, e acho que há fotos que transmitem mesmo isso, eu apenas, grávida. Como ando no dia-a-dia, como me sinto confortável nos dias que correm.

E aconteceu magia. Percorremos todas as fachadas que nos lembrámos, encaixei-me nos grafittis e nos pormenores arquitectónicos, ela procurou a luz e os ângulos mais interessantes. E aquilo que começou por ser uma sessão de maternidade no meio da cidade ganhou contornos artísticos e uma liberdade inexplicável. Ela já nem precisava de puxar por mim, sugeria um recanto, um ângulo e lá estava eu. 

A Lu estava feliz de experimentar coisas diferentes e ambas estávamos mais uma vez, a transbordar de inspiração e alegria com o que tínhamos em mãos. Já não acontecia há algum tempo, e foi bom. 

Há fotos absolutamente espantosas, e eu por vezes ainda me comovo com algumas e com todas as recordações que estão implícitas em cada momento. Há realmente algo poderoso quando fazemos algo de criativo com alguém que nos é chegado, e senti que houve uma energia tão boa e uma sintonia grande naquelas horas. 
Repetiria o processo se pudesse. E ela ainda não voltou para Londres e já tenho saudades imensas desta miúda. Faz muita falta a Lisboa, a Lu. Mas agora o percurso dela é este e não deixo de estar absolutamente orgulhosa e feliz de a ver percorrê-lo com tanta gana e graça. 

Não tenho palavras para agradecer o que ela fez por mim, não só nesta sessão, mas ao longo da nossa história juntas, mas aqui fica o post com toda a minha tosca gratidão. 














(todas as fotos são da incrivelmente talentosa Luísa Starling)

terça-feira, 6 de junho de 2017

O que perdemos pelo caminho

Não sei bem como começar este post, mas tenho de falar sobre isto. Na passada sexta um antigo amigo do colégio contactou-me via facebook. E foi uma agradável surpresa durante para aí uns 3 minutos, até que percebi que o motivo pelo qual ele me contactava era para me informar que uma amiga nossa do secundário morreu. 

Já não falava com a M. há mais de 10 anos, trocava breves comentários no face, ou no dia de anos dela mandava um beijinho e assim ficávamos. A vida afasta-nos das pessoas, é inevitável. Acho que nem eu nem ela lamentámos muito isso, acontece simplesmente. Mas o afastamento nunca determinou que ela não tivesse sido importante para mim. 

Nunca fomos as melhores amigas mas tinhamos um bom entendimento, nos tempos do colégio juntávamos com frequência um grupinho e íamos a casa dela com frequência, seja para passar a tarde, para estudar, para nos arranjarmos para alguma festa, a cadela dela, o ser mais doce que me lembro, era como se fosse nossa também (pesou-me muito quando morreu), saíamos muitas vezes à noite, os meus primeiros fins-de-semana fora foram com ela, foi ela que me apresentou ao Friends, e ainda hoje, quando vejo episódios desta série, lembro-me dela. 
Nem sempre era fácil conviver com a M., ela precisava por vezes de atenção que ninguém compreendia, era sensível e tempestuosa, conseguia ser incrivelmente competitiva com as outras raparigas, mas comigo nunca o foi. Sempre senti que tínhamos uma amizade bastante simples e limpa. Talvez os sinais tenham estado sempre lá, e se calhar todos devíamos ter sabido mais cedo que ela não estava bem aqui. Porque a M. decidiu morrer. 
Ontem foi o velório. Não pude ir porque estava refém do centro de saúde, mas também não sei se conseguiria enfrentar vê-la sem vida. Talvez ela esteja finalmente em paz, talvez aquela inquietação tenha finalmente ido embora quando ela decidiu terminar tudo. 

E quanto a mim, penso nela incessantemente há 4 dias, sem saber muito bem como lidar com a estranheza disto tudo. Prefiro lembrar-me dela como aquela miúda meio rebelde, que foi a primeira a fazer um piercing e tatuagens ainda durante o secundário, que trabalhou num bar e nos dava bebidas à borla, que me acompanhava nas noites de karaoke quando eu (achava que) sabia cantar e me apoiava incondicionalmente, que nos abriu sempre as portas de casa dela e nos deixava sempre à vontade, e que no concerto dos Limp Bizkit (ih pois foi, fomos ver esse!) foi chamada para os conhecer ao backstage apenas por ser uma miúda gira. Foram tão bons tempos, sinto-me tão grata por tê-los vivido com ela. Quero lembrar-me do sorriso e do entusiasmo dela, de como a tornavam mais bonita. Quero acreditar que ela viveu antes de morrer.  Quero não me esquecer.

O ano passado e este ano têm sido anos de perdas duras. O meu mundo vai mudar e vem aí uma pessoa nova em folha (entre tantas que vão nascer ou já nasceram este ano). Faz parte, as gerações renovam-se. Fico com tanta pena de ver tantos a perderem-se pelo caminho, de não poder viver tudo isto com elas por cá. Parece que crescer é isto, mas gostava mesmo que abrandasse o ritmo durante uns tempos. Anda a ser duro demais.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Coming home

Hoje foi o meu último dia de trabalho. Vou finalmente para casa usufruir de algum descanso pré-bebé, talvez um pouco mais cedo do que o previsto inicialmente, e a verdade é que me deparo com uma dualidade interessante dentro de mim. 

Sinto necessidade de justificar a toda a gente porque vou para casa tão mais cedo do que o esperado, como se tivesse vergonha ou fosse preguiçosa por o fazer. 
Não preciso. Eu até podia não estar podre de cansada, a sofrer com as poucas horas de sono, com as dores de costas e todos os sintomas menos românticos da gravidez, que podia parar e ir descansar se me apetecesse. Mas a verdade é que padeço destes todos e mais uns quantos, e cheguei a um ponto em que sinto que não consigo esforçar-me mais. Especialmente quando dei por mim mais do que uma vez com a sensação de que não estou em condições para conduzir. É assustador.
Fiz por e organizei-me para poder ter este “benefício”, porque de facto o ano passado ia rebentando a cabeça com o excesso de coisas por pensar e fazer. E como o ano passado aprendi que tenho de ouvir o meu corpo e não quero testar os limites, vamos tentar começar em vantagem e gozar de algum sossego antes da criança me vir virar a vida do avesso por todos os bons motivos.

 Eu sinto-me mais confortável com esta decisão. E não acho que me vá aborrecer por ficar dois meses sem nada que fazer (pois, como se isso fosse possível).

Há sempre teorias para tudo no que toca a gravidez e a opinar sobre as decisões das mães de ficar ou não em casa. As pessoas não têm de fazer tudo igual. Cada um decide como se sente mais confortável. E não deverão haver julgamentos. Especialmente meus. 

Desenganem-se se acham que vou estar os dias inteiros refastelada no sofá a devorar tudo o que aparece no Netflix. Há muitas coisas que quero e preciso de fazer. Tenho uma lista imensa de preparativos para a chegada do meu miúdo, coisas por montar, por arrumar, por lavar. Malas de maternidade por fazer. Outra lista de coisas que quero arrumar, limpar e orientar em casa. Quero também fazer algumas coisas à mão para o quarto das crianças, e outras tantas por mim e para mim. E ler e escrever e desenhar muito. Fazer caminhadas e também aproveitar toda a praia que puder. 
E claro que vou percorrer a minha wishlist do Netflix, porque é óbvio que vou estreitar a minha relação com o sofá de vez em quando.

Em breve a minha vida vai mudar e ainda não sei muito bem como. Por isso nada como usufruir destes dias mais meus, dedicar-me efectivamente a esta coisa do nesting, e também a tirar algum tempo para ser apenas eu (ou assim espero). Porque sei que durante uns tempos apenas serei mãe. 

Estou entusiasmada e feliz. Toda uma nova fase começa a partir de agora, há uma sensação de finalidade grande nisto e ainda bem.  É estranho e um pouco assustador, mas o entusiasmo ainda prevalece. Tudo se torna mais real. 



(e quando escrevi este post, ainda não tinha acontecido, mas não podia deixar de comentar que ainda tive direito a uma despedida surpresa no trabalho, com direito a bolo de chocolate e a mimos dos colegas. Soube muito bem ser acarinhada por todos, apesar de detestar ser o centro das atenções. Que comece a contagem decrescente!)

sábado, 20 de maio de 2017

Bliss

Começo a ver o tempo a passar e em breve vai tudo mudar. Já tenho mil listas para fazer e coisas por organizar para a chegada do pequeno ser, e o tempo a apertar. Questiono se conseguirei fazer tudo a que me proponho, mas acredito que estarei focada e cheia de vontade de fazer tudo o que quero fazer (ajudava se eu só quisesse lavar roupa e colocar lençóis no berço, mas não, quero pintar a cama de grades e quero fazer almofadas, sou uma pessoa louca com demasiadas ideias e pouco tempo).

Mas antes, e como não tenho hipótese de ter férias normais este ano, vou fazer uma pausa de verdade (as do sofá não contam) e aproveitar este fim-de-semana para subir um pouco até o Norte e descansar verdadeiramente perto da Natureza, namorar, apanhar sol e piscina (caso o tempo o permita) para esquecer que peso quase tanto como um hipopótamo bebé, fotografar e ler... ou simplesmente babar num canto, não interessa. Depois disto vai ser o Deus-nos-acuda, por isso desejem-me dias pacíficos e que o miúdo não se lembre de nascer pelo caminho.
Vou andar mais pelo instagram nestes dias. Acompanhem-me por lá e até ao meu regresso!

quinta-feira, 18 de maio de 2017

6 coisinhas...

(imagem do maravilhoso Unsplash)

Enquanto aguardo por tempos mais frutuosos para voltar a uma escrita mais regular (talvez quando entrar de baixa - naqueles dias, espero, pacíficos, antes da criança nascer, imediatamente antes de eu voltar a não conseguir postar nada outra vez...), gosto só de parar um pouco por cá, arejar os caracteres, dizer nada de especial. Talvez os posts curtos até façam sentido por uns tempos...
Por aqui vive-se intensamente cada emoção, culpo as hormonas dos meus males, carrego em mim todas as dores de alma e não só. A gravidez não me deu sintomas estranhos ou fora do normal, apenas crises emocionais complexas que são parecidas com as que já tinha antes, mas exponencialmente maiores, algo como um SPM fora de controlo.

É engraçado que no estado caótico em que as coisas se encontram nesta altura do campeonato, vou encontrando alguns fios perdidos, e vou dando algum sentido a tanta coisa. 

E nestes momentos, encontro algumas conclusões em jeito de lições de vida que preciso de ter perto de mim, mas que talvez também vos sejam úteis ou façam sentido e por isso quero partilhá-las...

1- Preocupa-te menos em agradar
Nunca podes agradar a todos, e por vezes, nem a ti própria, por isso, nada como não levar as coisas demasiado a sério e descontrair um pouco

2- Relaxa... não podes controlar tudo a toda a hora
Dispensa explicações, não?

3- Dá tempo ao tempo
A paciência nunca foi uma virtude minha, mas tenho mesmo de aprender a cultivá-la. A aceitar que as coisas levam o seu tempo, que não são imediatas. Este pode ser um dos grandes motivos pelos quais eu não consigo cumprir dietas e afins. Não estou para esperar.

4- Não percas de vista o que é importante
É normal ser apanhada no turbilhão de emoções, tarefas, e tantas outras complexidades e distrações da vida. Mas de vez em quando há que perceber porque fazemos o que fazemos, onde queremos ir, com quem queremos estar... Perceber onde estamos e se estamos a fazer o nosso caminho.

5- Se tudo parar, o mundo continua a girar. 
Podes fazer umas pausas, a vida na terra não desaparece por isso.

6- Escreve o que sentes, o que te vai na alma, escreve parvoíces e acontecimentos banais do dia, o que pensas, o que te apetece. Escreve porque te faz bem.
Ultimamente os meus diários têm sido alimentados com mais frequência e adoro poder reflectir um pouco mais, poder recriar os meus pensamentos, limpar a cabeça nas palavras. Gostava era que fosse um exercício diário, mas pronto, é um work in progress.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Telegrama

Encontro-me bem. STOP. Demasiado trabalho para respirar. STOP. Muita inspiração e vontade de postar. STOP. A barriga está gigante, irra! STOP. A programação normal segue em breve. STOP. E novidades também! STOP.
Obrigada pela paciência malta. :)

quarta-feira, 12 de abril de 2017

My greatest music crush...


Ouvia o Mama’s Gun da Erykah Badu a caminho da faculdade com 19, 20 anos. Inicialmente, a musicalidade e as passagens entre músicas eram o que mais me atraía. Lembro-me que ouvia como um agradável ruído de fundo que me embalava o caminho e me fazia sentir inevitavelmente cool e na vanguarda dos gostos musicais semi alternativos do R&B e Soul. Claro que foi a minha amiga Sara quem me emprestou o álbum pela primeira vez, ela deu-me sempre a conhecer coisas fantásticas e sempre teve um gosto impecável.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que percebi que estava a reter as músicas quando dei por mim na fila do bar da faculdade a cantar o “kiss me on my neck” e percebi que precisava de ir para o carro e procurar a música em questão e ouvi-la com outra atenção. Nessa altura o álbum rolava inteiro sem preferências por uma outra faixa e nem sequer retinha os nomes das músicas. A partir daí comecei a prestar mais atenção. Lia as letras, retinha mensagens, identificava-me. Ouvia-o uma e outra vez e enraizou-se em mim

Naquela altura, solteira e descomprometida, sentia que aquela música dizia tudo sobre quem quer procurar o amor e a cumplicidade. Ainda hoje, ao adormecer com a respiração do meu amor no meu pescoço penso sempre na letra “…and kiss me on my neck, and breathe on my neck…” e sinto que as coisas estão bem.

Este álbum fala-me directamente ao meu íntimo, parece que foi feito para mim e em muitos aspectos definiu-me os meus primeiros anos como adulta e acompanhou-me desde sempre. Foi de lá que, apesar de estar mal escrito, retirei o meu nickname que me acompanha nos blogs desde 2005… “when incense burns, smoke unfurls, analogue girl in a digital world”. Esta frase ainda hoje resume muito de quem sou. 

A Erykah conhece-me melhor que eu própria. 

Este álbum envelheceu muito bem, continua com uma sonoridade impecável, algumas das músicas já são clássicos, outras parecem-me ainda mais brilhantes do que antes. Adoro como este álbum me acompanha há tanto tempo e ainda assim me faz sentir que me ensina algo. É tão raro isto. 

Quando me sinto mais distante, desligada, perdida, ouvi-lo do início ao fim é um regresso a mim mesma, é encontrar equilíbrio novamente. Todo ele vibra em mim. “Oh baby… we need to smile…

Sinto-me uma sortuda por ter esta relação com o álbum, por muito parvo que isto soe. Alguém tem também um amor incontornável por um álbum como eu? Ou é só de mim e eu sou estranha?